outubro 24, 2005

Mudar de vida

Está na época dos frutos secos.

outubro 19, 2005

Não escrevo

Agora leio e vejo coisas que me inibem de escrever. Não reajo, não actuo. Agora os dias são em lentas crostas de borbulhas, tapadas de um liquido amarelo, são cinzentos de água.

outubro 17, 2005

Uma cozinha com mosaicos pretos e brancos

...e esta história começa no instante em que o homem empurra a porta pesada e entra no quarto em que a mulher está deitada a dormir um sono ligeiro.

setembro 30, 2005

Hibernação

Tal como o ponto preto mais pequeno este blog também está em hibernação.
Ou em reformulação, mutação, transformação, tanto faz.

setembro 14, 2005

Há festa na aldeia



desde 5 de Setembro.

setembro 01, 2005

Só eu sei

Os livros são maus, dizem, e repetem-se numa sucessão infindável de acontecimentos que se repetem. São sempre os mesmos, contam sempre a mesma história. Sonho um sonho de os ler todos, um a um, cronologicamente, tirar referências e encontrar um fio, ténue seja, que os una. Não, para isso não preciso de os ler todos, tentar encontrar uma lógica, não isso também não, lê-los todos só porque me apetece, sim, porque aqui tudo se repete numa sucessão infindável de acontecimentos que se repetem. E o sonho não é mais do que ser apenas uma personagem.

agosto 25, 2005

A Torre

Naquela noite voltara a sonhar com a Torre.
Voava por cima das árvores, por cima daquela casa que se distanciava das outras na estreita faixa de terra, por cima das rochas, frente ao mar. Eu e os pássaros, toda a vida esperara por ser assim. Um só animal, uma só palavra em todos os locais que já tinha visitado, em todas as suas sombras espalhadas pelas paredes brancas das casas como num arco-íris a preto e branco, uma história a preto e branco.

agosto 24, 2005

(apontamentos)

a modulação da luz nos olhos verdes
o mundo no fim das tuas noites
um cão azul
grey is my favourite colour
water and whisky
a fachada de uma igreja
uma porta azul
pão de centeio, escuro
bugigangas

O senhor da cana verde

(...)
Não apontei ao rosto lívido, aos joelhos
resignados, ao peito descansando
numa ferida. Um homem sem desejos
gosta apenas de sentir as grades,de ouvir
a música de dez cêntimos ao encontrarem o chão.

Manuel de Freitas, Telhados de Vidro, Nº4 Maio de 2005

Aquela coisa no meio

Se nada somos neste mundo, sejamos tudo

Pega na pá e começa a cavar

Façamos nós por nossas mãos, tudo o que a nós diz respeito

No chão da fábrica, para lá da compreensão dos ossos.

julho 28, 2005

Alguém com quem se possa estar sozinho

Io conosco lei dall'inizio del mondo

I know she from the beginning of the world

Eu conheço-te desde o inicio do mundo

julho 25, 2005

Not Afraid

junho 13, 2005

Quase o fim

Hoje estive quase a acabar com isto, porque me pareceu fazer sentido terminar num dia como este. Depois pensei que fazia sentido exactamente o contrário. Começar, branco no branco, noutro lado qualquer, num dia como este.

A homenagem a Eugénio foi sendo feita nos últimos meses aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui

Bem hajam todos.

maio 04, 2005

Se Nos Encontrarmos de Novo

Vou pagar-te um café e ficar a ouvir-te contar a tua vida, vou trancar a porta do carro, deixar a luz acesa no último quarto. Se nos encontrarmos de novo talvez seja em Londres, na sala Rothko ou nos alfarrabistas de Cecil Court, talvez seja numa livraria do Chiado. Nessa altura talvez faça sentido a neve, manchada com o sangue que fica nas mãos.
Se nos encontrarmos de novo talvez não te pergunte quem és.

Ana Teresa Pereira

abril 28, 2005

Apontamento

Vaguíssimo retrato

Levar-te à boca,
beber a água
mais funda do teu ser -
se a luz é tanta
como se pode morrer?

Eugénio de Andrade, Obscuro Domínio

Longe da Aldeia - Rui Pires Cabral




Agora és estrangeiro em sentido
próprio, com os nervos toldados
por demasiada música. Sentado
na erva de Maio, junto à estufa
das carnívoras - Dragão Vermelho,
Sarracenia flava - a tua Primavera
tortuosa, transplantada.

Enrolas tabaco holandês, procuras
na memória um verso que melhor
explique o lastro das circunstâncias,
uma Inglaterra mais funda, deitada
à sombra da experiência
das palavras. E tal como esse
pequeno, quase imponderado
esforço, não terá sido afinal inútil
tudo o que fizeste na vida?

Rodas e repetições, é assim o tempo
na carne. Mas o que aprendeste
com o primeiro desengano não te preparou
para o segundo, o terceiro e todos
os que se seguiram. Entretanto faz sol
e o mundo existe, é quase uma pintura
de inocente intenção


Senhores passageiros

Alguns rapazes avançam mais depressa
para a morte, mas todos se debatem
com a vida que lhes resta. Às voltas
no cimento das cidades, entre
a estrangulada circulaçãos dos veículos,
segredam ao ouvido de um deus
surdo: concede-me um novo amor
igual ao dos meus irmãos. Entretanto
são mais as raparigas que não lêem livros
no venenoso relento das estações
ferroviárias, chupam rebuçados
de menta com fel, suavemente inclinam
a cabeça para ouvir: senhores passageiros
vai dar início à sua marcha o comboio
com destino a Santa Apolónia da escuridão.


Shirley Ann Eales

Na vitrina lê-se Livros Raros
e Usados sob o azul inclinado
de um toldo - mesmo em frente
à glacial cafetaria de franchise
onde o dia destrata o desejo
e não se pode fumar. Subo
aos pequenos gabinetes
mergulhados no doce bafio
da literatura e percorro de A
a Z as espinhas estreitas

e rachadas da poesia. É o sítio
mais vazio de Novembro
e o que mais me reconforta;
e o livro que escolho, por metade
de uma libra, traz no frontispício
um nome e uma morada: Shirley Ann
Eales, de Scottsville - um sumido
autógrafo de maiúsculas magras
e triangulares onde a imaginação
encontra por enquanto pretexto

e oxigénio suficientes para arder.
O teu livro teve outra existência,
pertenceu a outra casa, a outra mesa
de cabeceira - e o pensamento,
de tão óbvio, conjura de repente
uma vertigem, é um corredor
abrupto para a imensidão do mundo
onde trafica o acaso. Ah, sabemos
que a vida é improvável se damos
por nós a cismar, a meio de uma tarde

insípida, numa mulher desconhecida
que lia poemas em Scottsville, nos anos
70. Mas haverá aqui alguma espécie
de sentido, algum sinal guardado
para alguém mais sábio ou inocente
do que eu? Não sei quem és
nem onde estás agora, Shirley Ann,
mas como seria belo se pudesses
um dia encontrar, por obra da mesma
sorte, o teu nome nestes versos.


Rui Pires Cabral, Longe da Aldeia, Averno, 2005


Mais poemas do autor aqui
Outro livros do autor aqui

Ao acaso - Ficção Científica #1

entrou disposto a esquecer, com vontade de
no vazio daquele lugar rasgar no pensamento tudo
aquilo que tinha escrito até então, queimar, transformar
em cinzas, sombras de luz, todas as recordações que ainda existissem

os olhos no tecto amarelo, com grelhas para
a circulação de ar, a visão turva de fumo escuro
a parede branca em frente como tela, os móveis lentamente,
a desaparecerem, a cama, de contornos acinzentados, contrariar o tempo

o calor de um verão que queimava as vísceras
e tornava os dias maravilhosos, é tão fácil o amor
em dias e dias de sol, o longo inverno de olhares imensos
pela janela molhada de lágrimas, as tardes inteiras a olhar as estrelas

a água e o fogo num turbilhão de ideias que tudo
invadiu e destruiu, a fuga, a espera, o olhar para trás
o empurrão, as histórias construídas nos jardins de flores
que murcharam no tempo, inócuo, as folhas escritas imensas no quarto nu

histórias de um futuro que hoje vive, sofregamente,
abruptamente, ter medo de morrer num sítio estranho, onde
só existem estrelas e negro, guardar sempre o último fôlego para
depois, olhos abertos. No dia seguinte começar a escrever um novo futuro.

abril 27, 2005

Antes do mar, as águas

A causa precede o efeito; o todo resulta da união das partes.

Actualizações

Algumas actualizações nos blogs ali ao lado e alguns links novos:

amoralva

sublinhar

Peter's

Poesia Toda

webcedário

na respiração de um livro

hei-de ter-te na respiração de um livro
e ficar só num poema com um amor que não morreu
como a pálida penumbra
que me habita - casa estéril
inutilmente caiada.

mariagomes
14 de Abril de 2004